
Minha História de Vida
Nasci no dia 28 de fevereiro de 1984 na cidade de Porto Alegre (RS), sou filho de José Reinaldo Pereira e Angelina Cardoso Pereira, cresci em uma família amorosa que sempre me deu suporte especialmente em minha infância e adolescência, todos, sejam meus pais, avos, irmã, primos e tios sempre me ajudaram e me incluíram em todas as atividades da família.
Sou autista nível de suporte 1, fui diagnosticado tardiamente aos 38 anos, porém o Transtorno do Espectro Autista (TEA) sempre esteve presente em minha vida, durante minha infância, eu demorei a falar e a andar, não conseguia interagir com outras crianças da mesma idade, detestava som alto, movimentos repetitivos, ficava nervoso em ambientes tensos, tinha medos descontrolados (escuridão, animais peçonhentos e fogos de artifício) e uma inteligência avançada para a idade, coisas que chamaram a atenção de minha família, buscando ajuda imediatamente.
Minha terapia/estimulação foi realizada no Centro de Atendimento e Desenvolvimento em Pesquisas (CADEP) começou por volta de 1990, tendo sua sede localizada na zona norte de Porto Alegre. Paralelamente, nessa época iniciou meus estudos na Classe Especial na escola Antônio José de Alencastro em Gravataí com a professora Vilma.
O trabalho de estimulação desenvolvido pelas doutoras Maria Helena e Mariane foi eficiente, muito similar aos AEE's (Atendimento Educativo Especializado) existentes nas escolas atualmente, envolvendo brincadeira, atividades envolvendo a imaginação (lúdico), desenhos e conversa, aos poucos foi desenvolvendo a fala e a expressar meus sentimentos. Além disso, foi recomendado eu tomar remédios para controlar minhas crises convulsivas.
Como é de se esperar, minha estimulação/terapia não foi fácil, havia avanços e regressões semanais, além das atividades realizadas na CADEP, também eram analisados meu comportamento e progressão na escola, no início foi bastante complicado, mesmo assim nos apegamos às melhorias e corrigir rapidamente aquilo que estava errado, isso foi fundamental para o sucesso de uma estimulação dar certo, tanto que em meados de 1994, fui liberado de tomar remédios, motivo que me deixou feliz. Paralelamente, o trabalho didático desenvolvido pela professora Vilma na escola Alencastro também ajudou em minha evolução, conseguindo seguir em frente em meus estudos.
Paralelamente a terapia na CADEP e a classe especial, outro fator que ajudou em minha evolução foi minha entrada no Núcleo de Informática na Educação Especial (NIEE), projeto desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) voltado para pessoas com deficiência, graças ao meu hiperfoco em videogames. Durante o período que passei no NIEE (1993-1996), conheci o universo da robótica e informática, servindo como aliados tanto na questão da terapia na CADEP como em meus trabalhos feitos na escola. Foi no NIEE também que aflorou outro hiperfoco oriundo de minha paixão pela literatura: a escrever textos.
Entre 1994 a 1996, tudo corria bem, progredi bastante em meus estudos, tudo ia bem até que recebi uma notícia que mudou tudo: eu e minha família iríamos vir morar em Santa Rosa do Sul, cidade do extremo sul catarinense, apesar dos perrengues primeiros anos (1996-2001, conquistei meu espaço, estudei na escola João dos Santos Areão (1997-2005, me formei nos Ensinos Fundamental e Médio, além de ser o local onde aprendi a participar de atividades culturais e a estudar História, hiperfoco que eu tinha graças aos meus avos maternos e constante contato com livros, filmes, games e músicas históricos.
Após o término do Ensino Médio, decidi fazer faculdade de História (2007-2010), me tornando professor e historiador. Não parei por aí, fiz especialização em patrimônios históricos e culturais (2014-2016) e curso de fotografia (2017). Conquistado o sonho de se formar, lutei intensamente para conquistar mercado de trabalho (2010-2019), fazendo concursos, até que passei no concurso de Sombrio em 2015, conseguindo a sonhada efetivação como professor em 2019, sem precisar de laudo. Paralelamente, iniciei meus trabalhos literários e fotográficos, fazendo palestras sobre temas históricos.
A pandemia trouxe transformações profundas em minha vida, uma delas foi a desconfiança de que eu era autista, devido as crises e o comportamento que eu estava tendo tanto no trabalho como na vida pessoal, que em abril de 2022, decidi fazer a bateria de exames necessários, fui diagnosticado ser autista aos 38 anos, em seguida fiz as readaptações em meus locais de trabalho, além de decidir desenvolver um trabalho de conscientização sobre o autismo através de palestras e de meu trabalho cultural (fotos e livros, sendo que Versos Inclusivos é o meu primeiro trabalho literário totalmente voltado para a conscientização do autismo e da inclusão, no momento estou desenvolvendo minha autobiografia, a qual pretendo lançar em algum momento 2025).
Em 2023, fui agraciado com a menção honrosa no festival Brasília Photo Show, fazendo parte da exposição e livro oficial do evento, sendo uma grande vitória em meu trabalho fotográfico. Em dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Vereadores de Santa Rosa do Sul me concedeu a moção de aplauso devido ao meu trabalho na educação e cultura no município de Santa Rosa do Sul.
Posso dizer com muita tranquilidade de saber que sou autista me ajudou a me aceitar e a me conhecer por dentro, a compreender a minha própria estória de além de lidar com determinadas situações que o cotidiano me impõe, me sinto feliz por não existir dúvidas do que sou e tenho um orgulho imenso, autismo não é uma doença, mas sim apenas um jeito de ser.
Forte abraço!